segunda-feira, 1 de novembro de 2010

:)


Referência. Certeza. Palavra certa. Assertividade. Entrega. Coragem. Partilha. Realismo. Simpatia. Candura. Delicadeza. Presença. Amiga. Irmã. Mamã. Exemplo.

“Tive-te” para mim apenas 4 meses. A Guiné teve-te durante mais de 17. É bonito ver como partiste e, ao mesmo tempo, ficaste, deixando aqui parte de ti, uma grande e muito importante parte. Sem querer, sem exaltar ou esperar em troca, “deixaste-te” em nós e em todos com que te cruzaste, em bocadinhos quase invisíveis mas reais e cruciais. Pintalgaste muitas vidas de amor e carinho, entregando-te a cada um, como cada um precisava.
Regressámos a casa num tumulto. Foste (és) demasiado importante para falarmos sequer sobre ti. Apenas te saboreámos, cada uma à sua maneira, enquanto atravessávamos, desta vez sem música, a tua Bissau.

“O apego não quer ir embora
Diacho, ele tem que querer (…)”



Obrigada.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

T.I.A. II


Disputou-se no sábado passado um dos jogos mais esperados do ano: Angola vs Guiné, para a CAN2012!
O governo da Guiné enviou camisolas para que a embaixada de GB em Angola pudesse distribuir pelos poucos emigrantes que fossem assistir ao jogo.
No próprio dia, Bissau estava ao rubro: as pessoas contentes e esperançosas, bandeiras espalhadas por todo o lado (qualquer padrão existente entre GB e PT é pura coincidência). Como se jogava fora, a cidade parou para ouvir o jogo. Sim, porque apenas uma pequena minoria que tem a sorte aceder a um satélite para ver a partida.

Porquê T.I.A.?

A realização do jogo esteve tremida porque a GB não tinha dinheiro para levar os jogadores até Angola. Então, cordialmente, Angola enviou um avião para vir buscar os jogadores para poderem jogar em Luanda!!!

As camisolas, gentilmente cedidas à embaixada, foram apropriadas pelo embaixador que, em vez de as distribuir, as vendeu a preço de ouro!

A GB perdeu por um golo mas, sinceramente, até ficava mal se ganhasse…
O embaixador ficou um bocadinho mais rico e, obviamente, recusou-se a ser entrevistado pelos jornalistas!


What can I say? TIA!!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

T.I.A.


Este vai ser um assunto certamente repetido neste blog, até agora muito pouco trabalhado… T.I.A. deve ler-se “Ti Ai Ei”, meaning This Is Africa. Entenda-se que não pretendo gozar com nada nem com ninguém, tal como não pretendo fazer qualquer tipo de discriminação. Quem me conhece, sabe que falo mesmo a sério.

Repetindo-me, estou em África e aqui as coisas são diferentes. Não melhores nem piores. Simplesmente diferentes. As diferenças têm tantas proveniências que são impossíveis de enumerar mas que, na sua maioria, dão origem a maneiras de pensar, dizer, apreender e exprimir as coisas muito diferentes daquilo que nós entendemos ser a normalidade. No entanto continuo e achar a normalidade um conceito MUITO subjectivo…
Algumas dessas diferenças têm muita graça :P! Uma delas é a que vos trago hoje, depois de um dia inteiro a ler e reler CV’s para a colocação de mais um colaborador local.

Aqui fica então o primeiro T.I.A.: “As pérolas dos CV’s” :)!

“Com os meus altos e respeitosos cumprimentos, peço vénias de vir em presença da vossa instituição por fim de manifestar a minha candidatura.”

“Gostaria de apresentar os melhores cumprimentos nesta árdua missão que lhe é confiado em prol da Consolidação e do Desenvolvimento na Guiné-Bissau.”

“Sou influente na praça pública…”

“Minhas sinceras saudações fraternais e votos de sucessos no desempenho desta vossa função.”

“ O meu nome é [x], filho de Joaquim Garrafão e de Isabel Ié…”

“Estado civil: Casado segundo uso e costume”

And last but not least
“Aptidões pessoais: Durante os anos de estudo na Universidade de Moscovo, tive contacto com estudantes dos outros países não só africanos mas de todos os continentes do planeta terra, inclusive vivia com alguns. Desde a minha infância foi pioneiro, depois na idade média frequentei diversas associações. Sei jogar na medida de amador, talvez se dedicava podia ser futebolista. A nível técnico sou curioso, em muitos casos tentei concertar algumas peças na maioria dos casos consegui. A nível de música participei algumas vezes nos concursos de Play-Beak”


What can I say?! TIA :)!!!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Felizmente há Luar :)


"O início do Ramadão em cada ano é baseado na combinação das observações da Lua e em cálculos astronômicos (...) O final do Ramadão é determinado de maneira semelhante."

O dia do final do Ramadão, dia de feriado nacional e sinónimo de grande festa por todo o país, corresponde ao 30º dia de jejum. Na Guiné é declarado apenas na véspera e depende do facto de se ver ou não a lua no 29º dia (hoje).

Felizmente, hoje há luar! São 20.57, amanhã é feriado nacional e nós acabámos de saber!


Viva a Guiné :)!!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Intensidade...


Esta é a melhor palavra para descrever o que sinto desde que cheguei.
A vida aqui é intensa. Não é nem pesada nem leve, não é dura nem calma, não é complicada nem simples…

É intensa, exactamente porque é uma mistura de todas estas coisas!
Intensidade nas relações que são próximas, no trabalho que é muito, na realidade que assusta e desafia, no dia-a-dia que é variado sem deixar de ser rotineiro, na distância que relativiza mas angustia...
Intensidade dos olhares e das vidas que aqui se vivem, intensidade no clima social e político do país, intensidade da sua história difícil de entender e contar...

sábado, 14 de agosto de 2010

Normalidade...



É estranho não conseguir escrever nada de "bonito" acerca deste mundo... Podia falar das crianças descalças, sujas e rotas que vejo todos os dias.. Podia escrever sobre a tristeza e a falta de esperança de quem cá vive.. Podia falar da fome, da falta de água potável, da inexistência de luz pública, da falta de higiene, dos buracos na estrada, dos militares a passear-se na rua com metralhadoras, das feridas que as crianças não curam, dos serviços que não funcionam, das casas destruídas pela guerra, da quantidade de pessoas deficientes que vejo todos os dias...
Gostava, no fundo, de escrever aqueles textos que nos transportam para as grandes reportagens da National Geographic ou do Discovery mas não consigo...
Tudo parece ser escrever sobre normalidades da vida aqui... tão normais que não têm nem história nem magia... O que levanta uma questão que me tem perseguido: Até que ponto é que as "coisas" do nosso dia-a-dia devem ou não ser consideradas "normais"?
É normal não haver água potável e luz eléctrica? É normal viver toda a vida sem uma meta, sem objectivos? Ou, pelo contrário, será normal ter luz e água potável e viver uma vida cheia de sonhos e objectivos?

Como dizia um professor meu, "depende"!

Depende do hemisfério e depende, obviamente, do termo de comparação. O meu/ nosso não corresponde sequer ao de um décimo do mundo... Por isso, será justo usarmos apenas o nosso? Por outro lado, não é perigoso achar qualquer uma das coisas que enunciei antes "normal"? Não soa a acomodação, a laxismo, a falta de visão...?

Este país põe-me a pensar...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Un son mon ka ta toka palmu


Porquê o provérbio guineense “Uma mão sozinha não bate palmas”?
Não sei o que é tentar bater palmas só com uma mão mas sei o que é "bater palmas" com a mão errada ou com mãos que não são bem as minhas.

Não é bom. Não sabe bem. Não recomendo. Não dá bom resultado.

Resolvi experimentar bater a minha mão numa outra que estava guardada lá nos confins. Uma que tinha recalcado, que tinha abafado, que tinha pintado de nostalgia e melancolia e guardado no baú das “boas experiências”.
Vim para a Guiné! Mudei de vida, agarrei uma oportunidade, atirei-me de cabeça, recomecei… Tudo isto disse, tudo isto ouvi... Tudo é verdade que, no entanto, está incompleta porque sinto que esta é uma aposta MAIOR!

Sei que as "palmas" que hoje bato não vão durar para sempre. Sei que se ouvem pouco, se calhar ouvem-se menos… Mas eu ouço-as bem melhor! :)

É bom. Sabe bem. Recomendo.
Bom resultado?! O tempo o dirá… Hoje, confio que sim! :)